Yoga tende a ser um trabalho duro e de dedicação. Afinal, quando uma palavra reúne em em si tantos significados, já aponta para o lugar ao qual estamos nos dirigindo.
Um lugar onde atar, reunir, ligar, juntar, focar, centrar, usar, utilizar, unir, comungar são verbos que traduzem a palavra e que demonstram quanta ação deverá ser investida por quem busca a prática.
Iyengar (Luz sobre o Yoga) quando apresenta recomendações e precauções para a prática dos ásanas, em relação ao local, traz apenas 3 pontos:
"Local
8. A prática deve ser feita em local limpo e arejado, livre de insetos e silencioso.
9. Não pratique em um piso nu ou irregular, e sim sobre um cobertor dobrado em piso nivelado.
10. Durante a prática, não deve haver tensão nos músculos faciais, ouvidos e olhos ou na respiração."
Essas 3 recomendações que em princípio são bem simples e fáceis de serem seguidas, na realidade, são especialmente desafiadoras para os dias atuais (ou será que sempre foram desafiadoras, em qualquer momento?)
Quantos de nós temos a opção e liberdade para praticar em um local arejado, livre de insetos e silencioso?
Quantos possuem o chão recomendado pelo mestre?
Quantos são liberados de expectativas e solicitações?
São os ajustes às recomendações de Iyengar que poderão contribuir para que a gente não desista de praticar yoga e mais, que praticar seja tão simples quanto o possível.
Temos um casal querido de praticantes em nosso projeto (Vaninha e Kiko) e que fizeram uma linda reforma na garagem de sua casa. E a linda reforma não era apenas no sentido do embelezamento do local, não. Eles trabalharam para além do embelezamento, na realização de um espaço aonde pudessem, conectados a nossa plataforma, dedicarem-se da melhor forma possível ao yoga. Tudo perfeito, não é mesmo? Ocorre que embora os tantos cuidados... os insetos existem e vez por outra, acompanhando e ajustando suas posturas, constatamos que as investidas dos bichinhos, elas também têm sido motivo de aprendizado e convivência pacífica durante as aulas.
O que isso nos demonstra? O que podemos aprender com o shala de Vaninha e Kiko? Talvez, apenas talvez, nos aponte que para a prática do yoga, assim como para a vivência do ser social que somos, seja indispensável desenvolver um local (externo e interior) aonde as diferenças convivam da melhor maneira possível.
Um lugar que mesmo possuindo um piso irregular ou aonde nos cheguem outros sons, bem, que seja nesse lugar, o meu lugar, o seu lugar, de superação, de adesão e de prática.
Que nesse nosso lugar possível de hoje, a gente também exercite leveza nos músculos faciais, nos ouvidos e nos olhos, aprendendo a respirar sem que a tensão do ambiente nos alcance na hora da prática. Que nesse lugar a gente construa nossos ásanas com todo equilíbrio e atenção possíveis naquele dia e naquela situação.
E conforme desenvolvemos disciplina na prática, um dia de cada vez, dentro das múltiplas realidades aonde estamos inseridos, a gente perceba que estamos aprendendo a meditar, a focar, a acalmar. Isto é, tendo a chance de aquietar nossos corpos e impulsos naturais nesse lugar, nesse espaço ideal para a prática, a gente encontre as ferramentas para a aceitação e transformação que nos cabe.
Ficamos agradecidos a vcs que nos deram a oportunidade de termos o sentimento de cuidar do nosso cantinho de prática. Nosso shala interior vai refletindo no exterior. O yoga nos mostra o caminho a percorrer. Possamos um dia praticarmos sem tempo ou espaço em comunhão com o Deus da nossa compreensão.