
De alguma forma (por curiosidade, urgência ou desespero) todos chegamos àquele lugar decisivo da busca por equilíbrio.
E também de variadas formas somos direcionadas a crer que esse equilíbrio vem mesmo é de fora: do corpo (geralmente apontado como o magro), dos outros (gurus, companheiros, familiares), de substâncias lícitas ou ilícitas, de compras, de silêncios, de ocupações e mais ocupações que dispersam nossa atenção para aquilo que realmente pode ser a chave para o equilíbrio: a pessoa que somos hoje.
Quantos de nós temos nossas vidas paralisadas e suspensas porque nos disseram que precisámos encontrar nosso propósito para aí então, nos dedicarmos a isso e sermos felizes!
Entretanto, quando iniciamos nossas atividades nas práticas de yoga, mesmo que seja difícil iniciar, logo nos primeiros encontros já experimentamos um bem estar super energético e, contraditoriamente, apaziguador. E tanto assim, que após algumas aulas, alguns meses, alguns encontros, nos sentimos tão mais seguros e plenos que... abandonamos esse compromisso.
Ocorre que da mesma forma que temos nossos corpos constituídos de artérias e veias que distribuem e recolhem nutrientes e resíduos, também fazem parte do nosso organismo um enorme conjunto de canais sutis (nadis) por onde o prana se distribui espalhando todo o bem estar e saúde que necessitamos.
Nadi é um conceito da filosofia hindu, mencionado em tratados antigos, alguns com até 3.000 anos. O número de nadis do corpo humano pode chegar a centenas de milhares e até milhões. O tratado Shiva Samhita sobre yoga afirma, por exemplo, que de 350.000 nadis 14 são particularmente importantes e, entre eles, três são considerados mais vitais: ida, pingala e sushumna.
Ida fica à esquerda da coluna e do corpo e está associada a energia da lua, traz o aspecto feminino da personalidade, de polaridade negativa, simbolizada pela cor branca, distribui apana. Esse sistema acalma a mente e corpo, pois está relacionada com emoções, sentimentos e memórias, intuição, introversão. Quando Ida se torna muito forte ou dominante pode ocorrer o cansaço, depressão, introversão e uma incapacidade de ver as coisas claramente.
Pingala fica do lado direito da coluna vertebral e do corpo , representada como que espelhando ida. Está associada a energia do sol, do fogo, ativa, positiva, ao prana, calor, extroversão, ação, atividade, masculinidade. Quando Pingala é sobrecarregada ( e há várias ocasiões em que isso pode acontecer, dentre outras, devido a agitação e acúmulo de tarefas) é possível vivenciar a dificuldade em dormir, de concentração, também com aspectos de ansiedade, irritação e atitudes agressivas ou impulsivas.
Sushumna corre ao longo da coluna vertebral, no centro, "passeando" através dos sete chakras . Considerada a nadi central, tem a natureza do fogo e está inativa. Sushumna apenas se abre e flui livremente quando Ida e Pingala estão balanceadas e em equilíbrio, a purificação das três nadis são extremamente importantes para a saúde do corpo e da mente.
E são esses conhecimentos tão antigos que vivenciados nas várias práticas de yoga, incluindo as purificações preliminares ou satkarmas , os selos yogues ou mudras, visualização, contenção da respiração ou pranayama e a repetição de mantras trabalham juntas para forçar o prana a se mover de Ida e Pingala para o centro, em Sushumna.
Tendo essa compreensão sobre a prática que realizamos cotidianamente, podemos exercitar o equilibrio e a harmonia que surge dentro do corpo e extrapola em ação assertiva, serenidade e coragem para o enfrentamento das questões do viver.
Por isso, não há porque parar.
Não há porque atingindo um bem estar inicial, desistir do processo.
Ou semelhantemente, não tendo experimentado imeditamente a regulação desses canais sutis, abrir mão da prática, considerando-a apenas, um exercício de construção de posturas físicas, acrobáticas ou fortalecedoras do corpo físico, apenas.
Continue praticando.
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