Estamos muito acostumadas a identificar personalidades místicas femininas históricas a partir da visão e tradição judaico-cristã. Mulheres que são descritas como virtuosas, meigas, obedientes, servis, intercessoras e cuidadoras dos homens que as cercam. Habitualmente vemos essas mulheres silenciosas ou silenciadas. Mesmo em situações de festas, permanecem á margem dos eventos; ou nas festas, são elas as responsáveis para que eles, literalmente percam suas cabeças e outros, homens, possam seguir em suas batalhas e vitórias.
De múltiplas formas, mulheres e homens, são conduzidos a virtude de um feminino que normalmente cerceia corpos e sonhos que insistem em construir profeticamente outros espaços, extrapolando os limites de seus tempos.
Há tanto já sobre outras histórias, exemplos, transformações e resistências de mulheres que não se encaixaram. E normalmente, por não se encaixarem nos moldes de cada tempo, foram execradas, perseguidas, estupradas, humilhadas, inclusive, por outras mulheres.
Temos aprendido, muitas vezes a duras penas, que feminilidade é algo que se aprende ou que possa ser inculcado em mulheres e rejeitado em homens.
Reduzir o feminino a este ou aquele modelo, por si só, já impõe um padrão, uma forma, que pode impedir a livre identificação e felicidade de todes.
O que podemos aprender sobre corpos femininos, em detrimento de corpos masculinos, na atualidade? Comparemos, por exemplo, o trato dado pela imprensa em relação aos corpos de Michael Jackson e Marília Mendonca: ambos destruídos em tragédias, ambos de celebridades e, no entanto, com obituários tão diversamente preconceituosos.
O que podemos apreender sobre a indústria feminina no Yoga com suas malhas, decotes e contornos brilhosos? Em quais corpos femininos nos afirmamos nas práticas de yoga?
Por que, ainda, tão poucos homens recebem orientações e ajustes nas práticas de Yoga, sem um rancor por essas mulheres-professoras?
Por que tantos homens agraciados e reverenciados como gurus?
Por que homens idosos são tratados como sábios ou maduros e as mulheres idosas são tratadas como velhas e ultrapassadas? De qual limite falamos sobre ultrapassagem?
Qual a nossa dificuldade em elevar as mulheres?
Encararmos essas e outras questões poderão nos ajudar a entender porque nos sentimos tão sobrecarregadas mentalmente e com esse terrível sentimento de insuficiência.
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